Evento tem apoio da Secretaria de Segurança de Defesa do Cidadão
Soltar pipa é uma brincadeira saudável e divertida. Mas se torna muito perigosa quando a linha de empinar é chilena ou com cerol – uma mistura cortante de vidro moído e cola que se passa na linha da pipa com o objetivo de cortar a linha de outra pipa quando ambas estão no ar. O problema é que essas linhas não cortam somente pipas, mas podem ceifar vidas.
Para quem não sabe, o cerol é crime, previsto nos artigos 129, 132, 278 do Código Penal Brasileiro. E para alertar sobre a importância de prevenir esse ato criminoso, Jacareí será palco neste sábado (17) de um evento que reúne centenas de motociclistas. A iniciativa marca o início de uma campanha de conscientização e tem o apoio da Secretaria de Segurança e Defesa do Cidadão. “É um evento que tem a finalidade de proteger vidas, por isso conta com nosso respaldo. A segurança é um dever de todos”, destaca o comandante da Guarda Civil Municipal, Maurílio Rodrigues.
O percurso a ser percorrido pelos motociclistas tem início às 8h, no bairro São João e termina com a concentração no Parque da Cidade, região central. Durante o evento serão distribuídos panfletos educativos e também será realizado um abaixo-assinado para coletar assinaturas visando mais rigor em relação ao comércio e uso do cerol.
Um dos idealizadores da campanha, o motociclista Paulo Giovanni Carneiro Oliveira, revela que um dos motivos que levaram a organizar o evento que deve reunir integrantes de vários motoclubes do Estado, foi uma triste coincidência. “No mês passado, num mesmo dia foram registrados três acidentes com motociclistas por causa do cerol. Dois em Jacareí e um em São José dos Campos. Chega de mortes, mutilações, ferimentos e sequelas não só em motociclistas, mas também ciclistas e transeuntes”, completa.
Ele lembra que a brincadeira de soltar pipa é saudável, o que tem de ser combatido é “uso criminoso” do cerol e da linha chilena. “Há um tempo, as pipas eram somente usadas para recreação e ornamentação. Hoje são usadas em uma competição de confronto para cortar a outra. Para isso é usado o cerol caseiro e também a linha chilena que é feita de quartzo moído e alumínio. Essas linhas são mais resistentes e mais perigosas, funcionando como objetos perfurantes e cortantes”, explica Giovanni.
Vítima – Na tarde do dia 25 de julho, o jovem Matheus dos Santos, 23 anos, voltava do trabalho em sua moto, mas sua viagem foi interrompida por uma linha de cerol. Quem relata o acidente, ocorrido na rodovia Euryale de Jesus Zerbine, próximo a Bandeira Branca, é a sua mãe Maria da Penha dos Santos Rodrigues. “O Matheus voltava do trabalho pela rodovia. E quando sentiu que a linha bateu no peito e depois no pescoço, já retirou com a mão. Ele viu que tinha cortado. No momento nem sentiu dor e teve a calma de parar a moto e buzinar para pedir ajuda. Dois pedestres pararam para ajudar e vendo o estado dele chamaram o Samu. Nisso o diretor de escola, José Carlos de Faria, que também passava pelo local, tirou a própria camisa e enrolou no pescoço do Matheus e logo ficou encharcada porque estava saindo muito sangue, aí ele pediu mais pano e uma comerciante trouxe uma toalha de banho colocou no pescoço dele até chegar o Samu. O Matheus permaneceu sentado na moto, e as pessoas segurando ele até a chegada do socorro. E os primeiros socorros realizados pelo José Carlos ajudaram muito a salvar a vida dele. Porque o cirurgião disse que se ele ficasse mais 20 minutos sangrando direto sem estancar um pouco ele não aguentaria”.
Matheus permaneceu nove dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e mais dois dias na internação da Santa Casa de Jacareí. Foram necessárias 6 bolsas de sangue para repor o que foi perdido e mais de 20 pontos para fechar o corte provocado pelo cerol.
Quase um mês do acidente, Matheus se recupera em casa. Mas ainda sofre com dores e fala com dificuldades. O drama vivido pela família é resumido na mensagem da mãe Maria da Penha: “Nenhuma família merece passar pelo que passamos. Quase perdemos um filho. Foi muito doído para nós. Que as pessoas tomem consciência de vender e usar o cerol e a linha chilena, que estão matando muita gente”.