As mãos e os braços têm dificuldades para articular os movimentos. E o simples gesto de pegar a pequena bola de 10 centímetros de diâmetro e lançar a uma distância de 1,5 metro exige muito esforço. Mas o jogador não desiste diante da limitação que os membros impõem, mira os olhos no alvo e faz a jogada. O técnico comemora o lance e o jogador retribui com um sorriso.
O jogador chama-se Wendel e é portador de paralisia cerebral, com comprometimento severo nos braços e pernas. Ele faz parte da turma da aula de bocha adaptada, que vem sendo realizada pela Secretaria de Esportes e Recreação de Jacareí, no CEPAC (Associação Criança Especial de Pais Companheiros).
Embora a cidade seja referência na bocha paralímpica (o jacareiense Antônio Leme, mais conhecido como Tó, conquistou ouro nas Paralimpíadas de 2016), a intenção principal das aulas não é a formação de uma equipe competitiva. O secretário de Esportes, Marcelo Alexandre Bustamante Fortes, explica que o objetivo é proporcionar qualidade de vida para portadores de deficiência, como no caso de Wendel. “Nosso intuito é promover a melhoria da qualidade de vida de toda a comunidade seja criança, adulto ou idoso. E as pessoas com limitações físicas também estão incluídas nesse cenário. Portanto, não se trata de formação de equipe, mas sim uma iniciação esportiva. Isso não descarta a possibilidade de, lá na frente, termos condições de ter uma equipe competitiva” expõe o secretário.
O técnico e professor José Guardia, o Zezinho, reforça que na aula de bocha adaptada “a competição” está em segundo lugar. “Não podemos fechar a possibilidade paralímpica, mas o importante na aula é estimular o máximo o participante dentro de suas limitações”, destaca.
Segundo Zezinho, a bocha adaptada permite trabalhar limitações causadas por lesões na medula, atrofia e distrofia. “Na bocha adaptada trabalha coordenação motora, força, consciência corporal, cognição. Por exemplo, o jogador precisa pensar na estratégia do jogo, não é apenas pegar a bola e lançar. Ele tem que vencer a jogada e para isso tem de pensar no jogo, desenvolver uma estratégia. Se está numa situação difícil, o jogador precisa reverter o resultado para vencer a jogada.
O secretário Marcelo Fortes acrescenta que o trabalho inclusivo, que iniciou com a bocha adaptada, pode ser estendido a outras modalidades: “Estamos pensando em ampliar o trabalho com outras modalidades paradesportiva como natação e atletismo”.
As aulas de bocha adaptada são realizadas às terças e sextas no CEPAC (Associação Criança Especial de Pais Companheiros) e quarta e quinta no EducaMais São João.
(Rosana Antunes/PMJ – Foto: Cristina Reis/PMJ)